Estou acostumado em perguntar
e ninguém responder
A chamar e ninguém
me ver
A falar e ninguém
me ouvir
Esperar e ninguém chegar.
Esquecer que fui esquecido
Deixar para lá que fui deixado
Ignorar o fato de que fui constantemente
Ignorado.
Acompanhar o sinal azul do WhatsApp
Sem respostas
Que me esfriaram quando estava aquecido
Que me odiaram quando quis ser amor
Que me escolheram por não ter alternativa:
Seja lá como for!
Me acostumei e não devia
Com a recepção
Das pessoas, no bom dia, que dizem não
Na decepção
Do carinho frio quando negam sua mão
Do racismo velado revelado
Na ojeriza do olhar
Eu me acostumei
E não deveria me acostumar
Eu não mudei
Mas deveria me revoltar (?)
Do afastamento geográfico reforçado da ignorância humana de que as peles não se devem tocar.
Ainda sou aquele cara negro
Aquela cara preta
Que ri para ser notado
Que diz alto para ser escutado
Que pede sem esperança de receber
Que dá afeto para ser afetado
De qualquer forma, independentemente de como se vê...
E isso é triste
É tão triste se sentir só no meio da solidão social
É amargo o marketing da divisão unilateral
É tão estranho ser humano num mundo
Em que há homem mais igual que o outro
Minha garganta seca seca
E o sufoco
Me deixa calado.
Minha omissão peca.
Eu me acostumei a amar e não ser amado.
Pergunto, São Francisco:
E isso, não é errado?
Dir Lopes