RESILIÊNCIA
Tenho apreço
Por aquilo que não me custa
E é caro a meu ver.
Imóvel embaixo o vento
Apressa-me.
Você não suporta minha mudez
Essa pornografia da palavra
Sem nada
Sem palavras
Vazio
Olhares vazios presos
Num ponto de fuga
Longe de mim.
O que dizer?
Me perdi nunca me tive?
Tenho apreço
Pelo que você me fez descobrir
Minha mão renuncia nesses tempos modorrentos
Seus abraços modorrentos
Espremendo palavras que não nunca tive.
Aqui dentro ainda estão acesas
Algumas velas esquecidas
Orações perdidas
Desejos
Somente
Semente?
Eu já não sei rezar
E tenho ainda medo de atravessar a avenida
Cheia de pessoas escuras e brancas
Em silêncio contemplo
As ruas passando
Não custa nada tentar
Confiar um pouco em mim.
Eu tenho apreço naquilo que não tem preço
Olho para o céu e não sei
Se subo
Ou permaneço
Seus olhos são bonitos
E tenho desejo de você
Da sua boca palavrosa
Mas não a quero mais
Não sei se me calo
Ou se vou perecer
Eu tenho esperança
Eu tenho apreço e
Por incrível que pareça
Não cansa.
Esperançar.
Dir Lopes