Eu tenho hábito doentio de correr para todos os lados, abraçar todos os propósitos, proteger todos que me procuram, ler e possuir todos os livros, amar todos os seres, cuidar de todos a minha volta e me desesperar. Sou um indivíduo desesperado.
Vivo afoito, correndo contra o tempo, nadando contra a maré, dando murro em ponta de faca, cavando buracos e me enterrando dentro. É por isso que muitas vezes eu digo que estou cansado. É por isso que muitas vezes me sinto exausto. E depois vem o desânimo, a tristeza e a sensação de incapacidade.
Porque é impossível cuidar de todos a minha volta
Porque é impossível amar igualmente a todos os seres
Eu não posso ler e possuir todos os livros do mundo
Não consigo proteger a todos que me procuram
Não tenho braços para abraçar todos os propósitos
Não tenho como correr para todos os lados.
Não posso ser bom a todo tempo
Não tenho como ser perfeito.
Eu preciso parar de correr
Preciso respirar e dizer para mim que eu estou bem
Não sendo perfeito
Não sendo bom o tempo todo
Não abraçando a todos propósitos
Não protegendo a todos que me procuram
Não tendo e lendo todos os livros do mundo
Não amando igualmente a todos os seres
Não cuidando de todos a minha volta
Eu preciso me esvaziar e parar de bater os braços como louco no meio do mar.
Eu preciso deitar sobre as águas e olhar o céu sobre mim. Porque há um mistério tão grande e mais importante do que tantas coisas fúteis, inúteis, que venho procurando há tantos anos.
Eu preciso me encontrar. No meu interior, no fundo da minha alma e saber
O que eu realmente preciso ser
O que eu realmente amo
O que eu realmente procuro
Para onde eu realmente quero ir
Hoje calei meus pensamentos dentro de mim.
E eu quero muito, nesse resto de minha vida, não correr mais
Não me desesperar
Quero voltar a olhar a lua, a sentir a brisa do vento em meu peito
A dormir e aproveitar os sonhos
Porque a vida está passando e está acabando...
E eu preciso cuidar de mim.
Valdir Lopes
10/08/2022