CAVERNA
Porque escrever é ato de libertação
Textos
PARÁBOLA DO JOVEM MISSIONÁRIO.

 
Um dia um missionário chegou ao seu superior e, cansado, desabafou:
 
“Frei, eu não entendo. Meu peito ainda sente um aperto imenso, um vazio assustador. Tenho-me dedicado completamente às obras de Deus e mesmo assim não me sinto confortável. Visitei, nesse último mês, mais de 50 famílias, dei esmolas, cuidei das feridas de outros doentes, administrei o pão do céu a mais de 200 fiéis, na sua companhia. O que me falta ainda?”.
 
O paciente catequista abraçou seu pupilo e num gesto carinhoso o fez sentar ao seu lado, e contou uma história.
 
“Havia na redondeza um professor famoso pela sua paixão por livros. Amava tantos os livros que não podia ficar sem adquirir um. No começo comprava, lia e cuidava com muito esmero de cada um. Com o tempo sua biblioteca foi ficando muito grande, mas a vontade de saber mais, de ler mais não o abandonava. Sempre havia um livro novo para ser lido. No entanto, não podia escusar do cuidado com suas preciosidades. Quanto mais aumentava o número de sua coleção, mais trabalho tinha. Aponto de que, após a sua morte, sua família encontrou em meio a sua biblioteca uma quantidade imensa de livros empacotados, sem ter sido lido.”
 
“Não entendo”, disse o missionário, “o que há nessa história com a minha angústia”?
 
O bondoso frei continuou: “Havia outro homem conhecido por demais. Gabava-se por ser conhecido por toda a cidade. Sua fama o deixava por muito vaidoso. Era sua principal alegria. Quando passava pelas esquinas, alguém buzinava e acenava-lhe as mãos, com sorrisos largos, e até rindo. As mulheres o cumprimentavam com respeito e polidez. Mas ele acabou morrendo. Ao chegar ao céu, um anjo lhe perguntou se havia alguém por ele, que rezasse por ele, pois muitas coisas ele deixou de fazer para a evolução da alma. O homem logo disse. “Há quase uma cidade inteira.”. O anjo olhou profundamente na alma desse pobre homem e disse. “Por favor, diga o nome de ao menos uma pessoa, pois não consigo ver ninguém orando por ti.”. Tristemente o homem não se lembrou de ninguém.
 
O velho religioso olhou para o aprendiz e percebeu que o aprendiz ainda não havia entendido suas metáforas e completou. “Filho, das 50 famílias que visitou, conhece alguém, conversou com alguém, sabe a história de alguém? Sabe o por quê das feridas de tantas que cuidou? Sabe os motivos que, ao menos, um fiel teve para buscar o pão do céu? Não faça das obras do Senhor um amontoado, uma coleção sem proveito, sem conhecimento. Às vezes é bom ter uma quantidade menor de feitos, mas com uma qualidade enorme de merecimento, do que colecionar feitos que você nem compreende porque.”
 
O missionário então saiu, calado. O mestre voltou às suas orações e de seus olhos uma lágrimas caiu.
valdirfilosofia
Enviado por valdirfilosofia em 14/11/2013
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