CAVERNA
Porque escrever é ato de libertação
Textos
Foi numa noite assim, parecida com a que estou tendo hoje. O céu começou a ficar revoltoso e escuro. Fortes batidas de ventos começaram a fazer barulho, ocupando o que outrora era silencioso. Levantei-me do sofá, bêbado, na escuridão de minha casa, procurando janelas abertas. Apenas duas, duas janelas em um casa de três cômodos. Era meu refúgio. As duas janelas fechadas. Estavam fechadas. Tentei observar melhor os trincos, mas estavam firmes. A chuva já anunciava sua chegada com batidas fortes no zinco do teto, mas o barulho de toc-toc desesperado continuava. Não eram as janelas. Cambaleando voltei ao sofá, olhava a parede preta a minha frente, ornada de gorduras de um fogão velho, teias de aranhas e terra. Fiquei a pensar. Na porta não poderia ter ninguém. Uma tempestade bravia assassinava meu telhado, não poderia a porta apenas dizer toc-toc. Olhei apressadamente pela fresta da porta de madeira. Com o auxílio dos relâmpagos, busquei definir o que lá fora poderia trazer aos meus ouvidos barulho tão incômodo. Numa tempestade a que se avizinha, com os ventos como vanguarda, podia se esperar um ímpeto maior nas portas ou janelas, do que um incômodo toc-toc. Nauseado por demais, efeito das inúmeras garrafas de cerveja consumida no dia, borrões me pareciam através dos buracos da porta. Mesmo assim percebi que o barulho não vinha também da porta. Ruidosamente a casa fora clareada umas três vezes por raios que caiam. A chuva ficou mais brava, os ventos assobiavam. Eu fiquei angustiado e sentei novamente no sofá. Coloquei-me a olhar a parede preta e a forçar minha vista para uma pequena luz que despontava de um canto preto da parede. Um canto que fazia divisa com o teto de zinco. Como um raio de sol que buscava refúgio na minha casa. Sol. Eu achei graça. Um sol noturno. Depois mais uma pequena luz apareceu paralelamente a primeira, brilhante, na escuridão do meu lar. Não tive se quer dúvida de que havia algo de errado. Ataquei. Ataquei com toda a fúria que podia. Mas acho que estava com medo.
- Onde o senhor escondeu a arma que atirou em sua esposa?
- Esposa? Eu não tinha esposa...
valdirfilosofia
Enviado por valdirfilosofia em 28/10/2013
Alterado em 28/10/2013
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