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A GENTE NO MERCADO PRA COMPRAR QUINHENTOS GRAMAS DE LINGUIÇA


Fui ao supermercado comprar meio quilo de linguiça ou quinhentos gramas. Mas o que me chamou a atenção foi os dizeres na balança pesadora eletrônica do açougue, assim bem iluminado:

BIG MART: AQUI AGENTE SE ENTENDE

Lembrei-me do malfadado par "a gente" e "agente". Isso, de vez em sempre, dá-nos uma dor de cabeça enorme na hora de escrever um texto ou responder os questionários no concurso. Sem delongas. "A gente" é uma expressão equivalente ao pronome "nós". O que confunde então é a concordância verbal. Enquanto concordamos o pronome "nós" com os verbos no plural, "a gente" concorda com o verbo no singular. Exemplifico:

Nós fomos ao supermercado.

A gente foi ao supermercado.


Uma vez, meus alunos me questionaram dizendo que o uso da expressão "a gente" seria inadequada. Para muitos parece ser realmente nada polido dizer "a gente vai ao congresso", mas é aceitável. Não podemos esquecer que o uso das palavras e suas relações entre elas assemelham-se ao uso de roupas. Uma determinada roupa que você usa para ir ao trabalho não é a mesma que você usa para ir à prainha. Enquanto na boate você diz à amiga que “a música é massa”, numa exposição oral de um trabalho escolar você deverá considerar os termos "boa", "adequada" entre outras.


Mas e o agente?
Bem, nesse caso, "agente" significa um indivíduo incumbido de uma tarefa. Ou sendo mais preciso:

Agente: (lat. Agente) adj m+f. Que age, que exerce alguma ação; que produz algum efeito (...) que agencia, pessoa encarregada da direção de uma agência. Ser que realiza a ação expressa pelo verbo (...) – Dicionário Michaelis Escolar.

Dessa forma, conhecemos os agentes sanitários, agentes policiais, agentes alfandegários, agentes funerários, e até os nossos famosos detetives Sherlock Holmes ( de Conan Doyle) e James Bond são agentes.



Voltando ao supermercado. A frase ficaria adequada se fosse escrita assim:

BIG MART: AQUI A GENTE SE ENTENDE

Creio que é esta a principal intenção do supermercado: encontrar entendimento entre ele e seu cliente.

Mas não para por aí. Como hoje tenho churrasco de aniversário da minha amiga Professora Lisandreia, fui comprar meio quilo de linguiça e lembrei que, com o novo acordo ortográfico (de 1990 e ratificado pelos países de língua portuguesa no ano de 2009) o trema foi definitivamente enterrado. Até porque a gente não usava mais, né?

Então linguiça ou linguística não levam mais aqueles dois pontinhos em cima da letra "U"

Pedi meio quilo de linguiça e lembrei que podia ter pedido QUINHENTOS GRAMAS DE LINGUIÇA. O que seria a mesma coisa, concordam?

O interessante aqui é que quando estamos distraídos comumente pedimos QUINHENTAS GRAMAS. O que muda muita coisa. Explico:

Grama, articulada como termo feminino refere-se às gramíneas. Você vai a uma empresa especializada em paisagismo e pede que plantem gramas em seu quintal.

Já quando o termo grama está articulado com o gênero masculino, referimo-nos ao peso. Isso mesmo. DUZENTOS GRAMAS DE MORTADELA é diferente de DUZENTAS GRAMAS DE CAPIM.

E por fim, nesse meu dia de supermercado quero lembrar aos amigos que

FUI AO SUPERMERCADO (E não fui NO SUPERMERCADO)

É que o verbo ir rege a preposição a. Nesse caso:

Fui ao supermercado;
Fui ao cinema;
Fui ao sindicato;
Fui ao teatro;
Fui ao parquinho.

E

Fui à padaria;
Fui à praia;
Fui à loja.

Perceberam que, quando o destino de minha ação de ir pertence ao gênero feminino, eu uso o a craseado: à?
É nada mais que a junção da preposição "a" e o artigo "a"


CONCLUINDO:

FUI AO SUPERMERCADO COMPRAR LINGUIÇA PORQUE A GENTE VAI FAZER UM CHURRASCO LÁ EM CASA. MAS O AGENTE SANITÁRIO NÃO ME DEIXOU LEVAR A CARNE.

É isso ai!
valdirfilosofia
Enviado por valdirfilosofia em 12/05/2012
Alterado em 12/05/2012
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