LIBERTAÇÃO
Fogos de artifícios estouram pelo céu, subindo livres e colorindo a escuridão. Até mesmo as estrelas se esconderam para não ofuscar o show. Era a comunicação dos povos da terra com os seres do céu. Somente uma criatura não comemorava. Parado sobre um campo aberto, inclinava a cabeço para o alto. Não se sabe se estava maravilhado pelo show pirotécnico ou se estava procurando outra coisa. Ficou imóvel, sem reações enquanto todos gritavam extasiados, confraternizando entre si, abraços, beijos. Tapinha nas costas, um pedido de perdão. Um boa sorte. Mas ele permanecia parado. Quieto. O que estava procurando? Estava vendo algo que ninguém naquela euforia poderia ver? Ou ouvir? Ou sentir. Enquanto o barulho e as cores do céu aumentavam, enquanto as pessoas gritavam seus gritinhos de satisfação, nada perturbava aquele ser sombrio, solitário. Foi terminando a apresentação, as pessoas foram se acalmando e, de vagar, partindo cada qual pra sua realidade. Mas aquele ser ali permaneceu, na mesma posição, o mesmo olhar profundo para a imensidão até que o escuro do céu começou a embranquecer, varrendo simultaneamente e paulatinamente a escuridão. Aquele ser, como que acompanhando a noite, foi sumindo. Partindo dos dedos do pé, embranquecendo as pernas, a barriga, desaparecendo o peito, os braços e quando só restava o Sol sair de sua fonte, restava da criatura dois pares de olhos que brilharam com a primeira imagem do astro rei e se queimaram no ar, não sobrando nada. Ninguém mais o viu. E como as pessoas estão acostumadas a fazer, não lembravam mais que existiu. E assim se foi. Isso quem contou foi meu avô. Na época em que ele tinha 10 anos e ficou curioso para saber quem era aquilo que contemplava a imensidão.
valdirfilosofia
Enviado por valdirfilosofia em 28/09/2011
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