Às vezes acordo sobressaltado e verifico se está do meu lado. Vejo que dorme profundamente. Dorme? Sonha? Planeja me abondonar? Às vezes tenho sobressalto noturno e fico pensando quando irá me abandonar, quando se cansará de mim, do meu vício com o álcool e da minha chatice incrível de manter o controle dos meus objetos, de todos os meus objetos.
Você já disse o quanto não gosta desse meu hábito de tomar cerveja no café da manhã. Eu tentei amenizar. Eu não fumo. Mas acho que não é um bom argumento. Nunca foi um bom argumento. Amenizar um vício com outro vício. Mas não é o que todos os seres humanos fazem?
Estou tentando abrir meu coração para você. E aos poucos abro centímetros. Novamente meu medo que descubra o baú do meu passado e nele as mulheres ali enterradas. Barba negra ou azul? Ontem você verificou cabelos brancos em mim. Você tem cabelos brancos aqui! Disse-me surpresa, com uma pitada de humor.
Eu gosto de ouvir seu sorriso. Sai de sua garganta um som estridente, talvez forçada, mas gostoso de ouvir. Um riso rouco de um som harmonioso. E quando abre seu sorriso, o monstro que há em mim dorme e me deixa em paz.
Tento sufocar todos os dias esse demônio, luto contra ele para protegê-la. Se soubesse o quanto luto por você...