CAVERNA
Porque escrever é ato de libertação
Textos
AS ALZIRINHAS

À minha irmã  Cátia Rodrigues
 
            Gosto muito de ver pessoas com aquelas grandes malas sobre a cabeça. Isso realmente é muito divertido, além de inspirador. Quantas forças não seriam necessárias para realizar essa arte? Ou não precisaria de força?
 
            Talvez seja o jeitinho, uma fórmula secreta que só os iniciados nessa lida podem, com o tempo, fazer com tanto brilho, elegância e fervor.
 
            A tendência é do povo nordestino, pois desde a infância tem aquele hábito de carregar potes d’água sobre a cabeça. Até vejo aquela imagem da menina morena, marrom do sol e da poeira, vestida com uma saia longa que lambe os pés descalços. Camiseta branca do mesmo algodão da saia, amarrotada em sua base de tanto enxugar mãos, um pouco borrada do barro da lida e amarelada pela vida.
           
            Cobrem um corpo sensual da menina que se sabe linda pelo trabalho, pelo cansaço, pelo suor.

 
            Os cabelos soltos, secos e grossos estão esparramados, despenteados, jogados do topo da cabeça ao ombro, moldurando um rosto de pele grossa com linhas delicadas, de boca larga e sedosa do calor. De olhos furtivos, ressacas, não mais castanhos, mas tão escuros como que escondendo da dureza da vida a leveza humana.
 
            Não só tigelas d’águas, mas vão também bacias de roupas, cestas dos armarinhos até bujão. Vão as fazendas da Senhorinha e os quitutes de Alzirinha. Vão mandingas ou peixes para feiras como também lenho, cabresto e frutos.
 
            A cabeça desses seres não é dura, mas sim resistente. Fez assim as atividades corriqueiras de auxílio à vida. São assim felizes não porque escolheram. Nessa situação não há escolhas. Há modos de vida aceitos em prol da vida.
 
            É por isso que aqui na rodoviária de Penápolis, ou de Barbosa, ou de São José de Rio Preto, ou de São Paulo aquelas pessoas com grandes ajuntados de roupas presos em cordões amarrados fortes vão à cabeça e junto sonhos de nova vida. E também nas rodoviárias de São Paulo, ou de São José de Rio Preto, ou de Barbosa ou de Penápolis vão eles de volta pra casa, com caixas e sacolas das Casas Bahia, amarradas fortes sobre a cabeça trazendo novidades.
valdirfilosofia
Enviado por valdirfilosofia em 27/11/2012
Alterado em 27/11/2012
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